Este é mais um relato de case sobre como
práticas obsoletas tendem a resistir em ambientes onde os novos paradigmas de
aprendizagem introduzidos pelo uso das TICs não são bem compreendidos pelos
educadores e sobre como e porque isso deve ser mudado.
A situação em questão deu-se na escola do meu
filho, que agora cursa a quarta série de nove anos (antiga terceira série). A
escola é uma escola particular de uma cidade média do interior paulista que
atende a um público das classes C e D (classe média e média baixa) e todas as
séries, do Maternal ao Ensino Médio, incluindo alguns Cursos Técnicos. É uma
escola grande e tradicional, porém bem cuidada e com uma boa qualidade de
ensino comparada à média das escolas paulistas.
Embora a escola seja tradicional e não tenha
nenhum enfoque significativo no uso pedagógico das TICs, como muitas outras,
ela oferece algumas “aulas na sala de informática”, mas são raros os
professores que utilizam as TICs de forma significativa em suas práticas ou com
seus alunos e a escola não oferece suporte para esse uso em sala de aula.
Assim, o perfil pedagógico dos professores e de suas aulas é o perfil
tradicional de uso da lousa e do giz como suas principais ferramentas
tecnológicas.
Este case trata da forma truncada e
superficial como a pesquisa na Internet é vista pelo corpo docente (e pela
escola) e sobre como é possível propor mudanças nessas concepções a fim de se
mudarem também algumas práticas pedagógicas que visem promover uma melhor
adequação da escola à realidade do aluno atual.
Resumidamente, o problema discutido aqui pode ser
descrito como se segue: “A professora da quarta série de nove anos, em
reunião de início de ano, anuncia que durante o ano serão solicitadas algumas
pesquisas aos alunos e que estes devem devolver suas produções em papel, com
textos copiados à mão”. A justificativa para tal proposta é que “os
alunos tendem a copiar e colar integralmente os textos que encontram na
Internet”.
Embora essa metodologia possa parecer que faça
algum sentido e sua justificativa pareça ser “bem intencionada”, e assim foi
compreendida pela quase totalidade dos pais presentes à reunião, veremos a
seguir que esse tipo de atividade de pesquisa escolar, onde se usa a Internet
como uma das fontes de informação, não condiz com a metodologia proposta (cópia
à mão e apresentação em papel) e que, essa metodologia de cópias à mão
não apenas é obsoleta como também é sensivelmente prejudicial à aprendizagem
dos alunos.
O problema da pesquisa escolar
na Internet
Já dispomos de milhares de publicações, livros,
artigos e papers tratando do uso da Internet como ferramenta de
pesquisa e é um consenso entre educadores que utilizam as TICs que a Internet
é, sem dúvida, a maior fonte de pesquisa disponível de forma acessível aos
alunos. Portanto, não pretendo focar aqui na utilidade da Internet como fonte
de pesquisa, o que estou dando como fato concreto, e sim nas mudanças do
percurso de aprendizagem dos alunos ao utilizarem a Internet como meio de
obtenção de informações e na necessidade de compreender essas mudanças para
ensinar melhor e permitir que o aluno aprenda mais.
Toda pesquisa é, em sua essência, uma coleta de
informações a partir das quais se podem produzir resultados variados, que vão
desde o uso imediato da informação coletada até a produção de novas informações
e novos conhecimentos a partir da análise, desconstrução e reconstrução dos
conhecimentos obtidos com a pesquisa.
A pesquisa escolar, quando voltada aos alunos do
Ensino Básico e, em especial, aos alunos do Ensino Fundamental, visa objetivos
bastante amplos, dos quais, para efeitos ilustrativos, relaciono apenas dez
objetivos gerais e mais cinco relativos ao uso das TICs:
- desenvolver
atitudes autônomas de busca de informações;
- desenvolver
a habilidade de usar diferentes meios de pesquisa (livros, revistas,
entrevistas, experimentações, Internet, CDROMs e muitas outras fontes);
- desenvolver
a habilidade de leitura e interpretação de textos;
- expandir
o universo textual do aluno, colocando-o diante de diferentes formas de
linguagem (textos com diversas formas de linguagem, figuras, gráficos,
ilustrações, imagens, filmes, etc.);
- desenvolver
a capacidade de análise e síntese das informações (respeitado o nível de
desenvolvimento cognitivo da série e faixa etária do aluno);
- desenvolver
habilidades artísticas relativas à apresentação gráfica dos trabalhos de
pesquisa produzidos, fazendo-se uso de imagens e ilustrações diversas, bem
como de programas e instrumentos de produção artística;
- desenvolver
a habilidade de escrita, reescrita e produção textual;
- desenvolver
habilidades de comunicação ao apresentar os resultados da pesquisa;
- desenvolver
habilidades de trabalho colaborativo (pesquisando-se em grupos e contando
com apoio de adultos);
- trabalhar
questões de ética e cidadania relativas à propriedade intelectual;
- desenvolver
habilidades no uso das TICs (computadores, Internet, gravadores,
filmadoras e outras tecnologias de pesquisa, armazenamento de informações,
tratamento de textos e imagens, etc.);
- desenvolver
habilidades de pesquisa usando-se bancos de dados não classificados (uso
da Internet);
- desenvolver
habilidades de comunicação digital (produzir textos, apresentações, filmes
e outros materiais em mídias digitais, trocar informações e colaborar por
meios digitais);
- desenvolver
habilidades de publicação digital (publicar em blogs, comunidades,
galerias de imagens, etc.);
- desenvolver
habilidades de integração de diferentes mídias (uso de multimídia:
texto,som e imagem).
Continue lendo esta matéria em http://professordigital.wordpress.com/2010/01/31/pesquisa-escolar-na-internet-ctrlc-ctrlv-versus-copia-manuscrita/
1 comentários:
Muito bom trabalho. Parabéns!
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